quinta-feira, 16 de setembro de 2010

AS AMBULÂNCIAS

Era uma moça simples, ainda entusiasmada com tudo o que via, e chegou de viagem como quem havia chegado da lua, fazia tempo que eu não testemunhava tamanha euforia. Então, gostou de Nova York? Muito moderno, ela disse, muito moderno. Logo imaginei aquela menina encantada com as calçadas largas, com os prédios longos, com tudo o que havia por lá de vidro e concreto, e talvez o barulho. O barulho, ela confirmou, o barulho. Ruídos dos automóveis? Não, ela respondeu. Das ambulâncias! O olhar puro brilho era de quem tinha dito carruagens, mas ela havia dito ambulâncias. Em qualquer ponto da cidade, de onde quer que se esteja, impossível deixar de escutar, ha sempre uma sirene gritando, misturando-se ao som ambiente. Uma sirene, duas sirenes, são tantas, vindas de tão longe, aproximando-se, sendo escutadas sem serem vistas, muito moderno, muito.

Onde a moça vive não tem avenida, é cidade do interior, menor. Lá, ensurdecedor é o canto dos pássaros, o ruído dos cascos no paralelepípedo, algum rádio ligado na casa da vizinha. O posto de saúde é logo ali na esquina, todo mundo entra e sai sem alarde, os doentes chegam a pé, parece até que as doenças graves sabem que não devem acontecer naquele canto do mundo, porque com gravidade a cidade não lida, é pouco médico, pouco remédio, e quando o troço é sério de nada adiantam os chás e as rezas.

Então as sirenes, pra ela, passaram por música, sinônimo de urbanidade, lá vai um cardíaco para uma mesa de operação, lá vai um garoto que bebeu na direção, lá vai uma fratura exposta, uma facada nas costas, uma falta de ar ou um motorista de folga a se exibir para a namorada: olha só como eu abro passagem. Lá vão elas, as ambulâncias, com suas luzes piscantes e seus nomes escritos de trás pra frente, recolher corpos caídos do décimo sétimo andar, oferecer oxigênio para quem enfrentou um escapamento de gás, prestar primeiros socorros pra quem não teve a quem chamar. Voam na contramão, estacionam em qualquer lugar, atravessam os portões abertos dos hospitais, preenchendo as ruas com suas sirenes ligadas, avisando que se está em busca de gente pra ajudar, porque só na cidade grande há tanto motivo pra se estressar, pra enfartar, pra brigar, pra estourar, pra chegar assim tão rente ao inferno.

Muito moderno, muito.

Martha Medeiros - Coisas da vida

sábado, 4 de setembro de 2010

O Paisagismo por Liana Lunardelli


Quando Rafael Motta, Diretor Geral da Imóveis News, me fez a proposta de escrever sobre Paisagismo, fiquei muito contente, vi a chance de mostrar ao público em geral a importância do paisagismo, pois desde os tempos da faculdade de Arquitetura sempre percebi uma despreocupação em compor a paisagem no entorno do projeto por parte de alguns colegas. Na opinião destes tais colegas, a solução era colocar umas plantinhas e tudo estava resolvido. Semelhante ao público leigo que associa paisagismo única e exclusivamente a jardinagem.
No entanto, o paisagismo é o que traz vida ao projeto, ele está ligado à paisagem de uma maneira geral, com elementos naturais ou não, ele humaniza e leva o homem pra mais perto da natureza para que ele possa lembrar o quanto é bom tê-la por perto, o quanto é importante preservá-la.


O paisagismo surgiu com uma simples idéia de ornamentação do ambiente, com o tempo foi ganhando espaço, hoje ele chega a se confundir com o Desenho Urbano. Também pode ser denominado de Arquitetura da Paisagem.
Possui suas etapas projetuais de elaboração, planejamento e execução, sendo ele MICRO ou MACRO Paisagismo. Micro paisagismo refere-se a projetos pontuais, como: jardins de residências, comércios entre outros, um paisagismo pequeno, mas não menos importante. Em lugares públicos, como: praças, parques e bosques, se faz o Macro paisagismo, ele é maior, um projeto para uso comum, para a cidade, e também tem seu grau de importância porque precisa ser planejado para todos.


Ele vai muito além da estética, precisa ser funcional e confortável, trazendo segurança aos que desfrutam daquela paisagem, lugar ou ambiente. Alguns princípios são levados em consideração na hora de fazer um projeto paisagístico: atenuar o impacto da luz solar direta que causa incômodo em algumas pessoas; reduzir a temperatura de um determinado ambiente; trazer privacidade; isolamento acústico e por fim, melhorar a visualização do local.
Um projeto paisagístico precisa também ser bem especificado para que o executor não tenha dúvidas quanto a denominação das plantas e dos materiais empregados.
Tive a oportunidade de conhecer Benedito Abbud, um paisagista reconhecido mundialmente, em uma palestra feita por ele em Manaus. Durante a palestra, uma frase me chamou a atenção: "É quando a execução do projeto paisagístico acaba que ele começa." É preciso ter paciência para que as sementes brotem, floresçam, cresçam e finalmente alcancem a maturidade revelando toda a grandeza e importância do paisagismo. Mas para que isso aconteça, são necessários cuidados, é preciso seguir rigorosamente as especificações do projeto, utilizando o método de irrigação mencionado para que tudo corra dentro do prazo estipulado. Essa espera e cuidados que fazem com que muitos profissionais levem o Paisagismo menos a sério, causando o que costumamos ver de “selva de pedras”, trazendo desconforto e impactando diretamente no clima. Mas isso eles chamam de Modernidade, é a evolução tecnológica.

Hoje o paisagismo pode ser projetado e realizado por profissionais da área da Arquitetura, por Engenheiros Agrônomos e por outros profissionais especializados. Nunca deixe de se preocupar com as plantinhas da sua casa e com as árvores do seu jardim, pois elas ajudam no micro-clima do seu bairro. Procure um profissional para ter uma opinião mais acertada sobre o que faz bem e o que não faz bem para sua casa em termos de jardim, pois muitas vezes cultivamos plantas que são nocivas a nós e não sabemos, ficamos encantados apenas com a beleza delas sem se preocupar com as propriedades que elas possuem.

Liana Lunardelli